quinta-feira, 9 de outubro de 2008

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Especial 1º ano - A Salto ao 1º ano

Olá!

Antes de mais, sejam bem vindas e bem vindos!

A primeira pergunta que poderás estar a fazer mal recebes isto é: “quem são estas pessoas que me estão a dar um jornal?”. Na verdade, somos apenas estudantes como tu, e interessamo-nos por mais do que a medicina. Gostamos de pensar sobre o que se passa à nossa volta, sobre o que marca a actualidade e sobre as transformações da escola e do mundo. E gostamos também de tomar uma parte activa nessas transformações.

“Mas afinal o que é isto do A-Salto?”, poderás pensar a seguir. O A-Salto é o jornal do Salta. E o Salta é um “grupo” formado no início do ano lectivo anterior, sem secas de chefes ou estatutos (para isso já basta quase tudo o resto, como vais perceber). No Salta participam essas pessoas de que já te falei e por ele já passou muita gente da faculdade. E fazemos este jornal com as nossas mãos, sem apoios nem patrocínios (parece impossível!), porque gostamos de partilhar as nossas reflexões com mais gente, muito mais gente, sempre mais gente!

“Porquê formar um grupo?”. Na nossa opinião, é muito mais divertido, produtivo, diversificado e enriquecedor fazer o que gostamos e nos propomos a fazer - pensar, discutir, criar, inventar, agir, intervir, propor, lutar, transformar, rir – quando o fazemos em conjunto. E porque não havia nenhum “sítio” na faculdade onde pudéssemos fazer coisas desta maneira.

“Mas o que fazem em concreto?”. Criamos jornais, cartazes, panfletos, autocolantes, participamos nos órgãos da FML, exibimos filmes, organizamos debates e passeios por Lisboa. Esperamos este ano fazer muito mais! E também bebemos copos! :)
“E porquê um especial 1º ano?”. Em primeiro lugar porque gostamos de receber bem as pessoas, e gostamos de o fazer não com gritos ou pinturas, mas com informações, propostas, ideias e pensamentos. Porque quem agora chega não nos conhece. E também porque queremos mostrar às pessoas um lado diferente da FML (que por vezes não é fácil de se conhecer ou de se habituar) para que todos possam(os) ter a melhor “estadia” naquela que muitos te vão dizer ser a tua nova “casa”!

“E como me posso eu juntar a vocês?” (Ok, isto já somos nós a pensar!). Sempre que quiseres, da forma que quiseres, e com o contributo que quiseres! Podes aparecer a todas as reuniões ou só a uma. Podes querer fazer um filme, um debate ou simplesmente pensar sobre algo ou partilhar uma ideia. Podes querer saber mais sobre como resolver um problema na FML. Podes falar com qualquer um de nós quando quiseres ou simplesmente mandar um mail.

Acima de tudo queremos dizer-te que vão de certeza ser anos muito bons da tua vida, e que há muito mais vida na FML para além dos estudos! E que possas Saltar connosco!

Especial 1º ano - Zeitgeist ou O ano que vos espera

Não se assustem! Chegaram aqui, agora nada vos demove. Certo? Se forem preserverantes e estiverem mesmo confiantes de que não desejam outra coisa para o vosso futuro, é bem possível que sim. Mas terão de trabalhar bastante.


Bem-vindos à Faculdade de Medicina, bem-vindos ao primeiro ano do Curso de Mestrado Integrado em Medicina. Agora estão no ensino superior, num curso terrivelmente exigente e que vai pôr à prova toda a dimensão física e psicológica da vossa existência. Para mais, vocês entraram no decorrer de uma Reforma que mudou radicalmente a estrutura do curso nesta faculdade. Mas… Terá mudado assim tanto? A resposta permanecerá em aberto e a experiência deste ano responderá por vocês. Ao longo destes parágrafos vamos alertar-vos para certas coisas com base nas experiências que os colegas do 1º ano tiveram no passado ano lectivo. Vamos começar pelo grupo que será a vossa estrela polar para a resolução dos problemas que certamente surgirão ao longo deste turbulento ano curricular.

A Comissão de Curso (CC) é um órgão composto por alunos como vocês e que vos acompanhará em todo o curso, no melhor e no pior. É seu dever fornecer aos alunos a informação necessária para que o ano curricular decorra com naturalidade (datas de exames, horários, dúvidas sobre o sistema de gestão curricular ou até mesmo porventura existenciais). É seu dever organizar todas as actividades que lhe são delegadas pelo Gabinete de Gestão Curricular (organização de desgravadas, inscrições para turmas, etc.). É seu dever organizar RGAs (Reuniões Gerais de Ano) quando a situação o justifica – e vocês também podem sugerir à CC que o faça, desde que apresentem razões suficientes e que digam respeito a todo o ano. É seu dever ouvir-vos e comunicar em nome do ano o vosso agrado ou desagrado por qualquer acção tomada pelo Gabinete de Gestão Curricular ou outro órgão ou departamento da Faculdade, bem como esclarecer-vos nas questões que forem do seu encargo.

Dedicação, empenho, vontade de ser útil e sê-lo de facto, na resolução de problemas curriculares e extra curriculares, na representatividade dos restantes alunos do ano e defesa dos direitos dos estudantes, perante os órgãos da faculdade e quiçá da universidade são características que acompanham os membros da CC. Mas se para uns (desejavelmente todos) a motivação para tal trabalho é o altruísmo e sentido de responsabilidade, há também o reverso da moeda (daquelas de 1cent.), aqueles que vêm na comissão a galinha dos ovos de ouro: o bónus no currículo – pessoal, profissional e politico. Sim, político. Todos os anos o amiguismo nas eleições para a associação de estudantes resulta em muito dessa pseudo-empatia criada durante o cargo, dos contactos criados e das influências exercidas. E quem fala em atalhos para a associação de estudantes fala em caminhos mais longos, vão ver.

A informação é transmitida de forma por demais deficiente entre os órgãos da faculdade, começando por cima - pelos departamentos de cada Módulo. Os departamentos responsáveis pela cadeira de cada Módulo estarão supostamente integrados, em estreita comunicação uns com os outros. Supostamente. Preparem-se para sobreposição de datas de testes e orais, sobrecarga de apresentações e a sensação de estarem encalhados numa bola de neve que se vai adensando à medida que o fim do semestre (e o início dos exames) se aproxima. A linha ténue que separa o conceito de “módulo” e “mero agrupamento de cadeiras” vai levar-vos a uma carga de discussões filológicas e ontológicas (será o Homem mau por natureza?). Se por acaso se virem injustiçados em alguma matéria, sugiro que dialoguem com a CC e @ Coordenador(a) de Curso e, sempre que possível, esclareçam com devida antecedência junto dos professores questões como De que forma é feita a avaliação prática? Para quando está agendada a oral/o teste? É eliminatóri@?... No nosso ano tivemos vários problemas pois verificou-se que por exemplo no Módulo II.I, cada avaliação prática era eliminatória para o módulo, ou seja, se chumbássemos ao teste prático de Bioquímica não podíamos fazer o exame do Módulo; se chumbássemos à oral de Anatomia não podíamos fazer o exame do Módulo; e por aí adiante… Isto mostra como a integração funciona mal em muitos aspectos (uma questão ainda permanece no ar entre nós depois do ano por que passámos: se a teoria e a avaliação prática continuam separadas, o que é que está integrado então nos módulos?...). De certa forma podem ver este processo como um sistema de checkpoints: vocês terão de passar a todos os checkpoints que vos são colocados no decorrer do semestre para finalmente estarem “autorizados” a fazer o exame final do módulo.

Mais uma vez, toda a acção que partir de vocês (críticas a certas irregularidades de professores e aulas, p.e.) deve passar pelo diálogo com a CC e ser sujeita a devida ponderação e aprovação. Caso vejam as vossas propostas serem rejeitadas, estão por vossa conta. Mexam os vossos colegas, incomodem-nos com um pouco de realismo (leiam-lhes Os Miseráveis até perceberem o vosso ponto de vista) para que, juntos, em peso, comuniquem qualquer irregularidade ao Conselho Pedagógico - órgão fundamental para regular o ensino que vos está a ser prestado e que nem sempre está a par da vossa situação!!!!!!!! Por falar em Conselho Pedagógico, vocês têm ao vosso dispor o Regulamento Pedagógico (no site da faculdade) e convinha terem uma noção dos vossos direitos como alunos, para que os possam defender quando necessário. Só para citar-vos um exemplo, durante o 1º semestre do nosso ano, as turmas práticas de Anatomia foram sujeitas, cada uma, a um método de avaliação contínua diferente (em algumas os professores nem sequer avaliaram os alunos). No final, para algumas turmas foi feita média entre a Oral de Anatomia e a Avaliação Contínua como Nota Final Prática enquanto para outras a Oral de Anatomia figurou como única avaliação da Nota Final Prática. Tudo isto se passa sem que o Conselho Pedagógico tome conhecimento (a não ser que alguém o informe).
Agora falando um pouco de segurança e sanidade social. É óptimo que se divirtam e saiam o mais que puderem para desanuviar do estudo (se bem que será um pouco difícil levar a vida como dantes). É natural que venham a ter alguma dificuldade em organizar-se no estudo e nos trabalhos (que vão ser muitos e vão ter muito pouco peso na vossa nota!!!). O que eu sugiro é que sejam equilibrados ao longo de todo o ano. Vão chegar à conclusão que há dezenas de métodos de estudo e um deles é “baldarem-se” às aulas para terem mais tempo para estudar. Não considerem isso muito fora do normal, se por acaso se virem num impasse de escolha entre ser o “menino do coro” e faltar um pouco à rotina (também não vos peço para o fazerem cegamente; as aulas teóricas podem ser indispensáveis na vossa aprendizagem). O que importa é que sejam equilibrados e tenham plena consciência do tempo que dispõem, que tenham um aproveitamento de estudo acima dos 80% e que se habituem a ler calhamaços por várias horas seguidas.

De facto, vocês vão ter muitas, mas muitas cadeiras chamadas “cadeirões” num mesmo semestre. O Plano de Estudos que foi feito para vocês (onde é avaliado o nº de horas de estudo que eventualmente irão gastar para cada cadeira) não foi pensado para vocês. A vida foi-vos dificultada precisamente para dar um empurrãozinho à selecção natural no seio da faculdade. Poderão estudar esse plano no site da faculdade e ver pelos próprios olhos a quantidade irrisória de páginas que vos foram concedidas para escrever o 1º capítulo das vossas vidas no ensino superior. A abominável cadeira de Anatomia requer, para um estudante normal, pelo menos o dobro das horas de estudo que os professores preconizam. Torna-se assim óbvio que tenham de sacrificar algumas aulas teóricas para estudar, pois os professores julgam que as coisas vos entram por osmose. Citando outro exemplo, no 2º semestre tivemos de estudar para uma oral de Anatomia nas últimas semanas. Muitas pessoas chegaram a estudar 10 horas por dia durante 7 dias, o que perfez mais de 2/3 das horas de estudo previstas para o Módulo inteiro (Anatomia + Histologia + Fisiologia). Em uma semana!!

Para finalizar, queriamos salientar um aspecto subtil com o intuito de franquear o caminho que têm pela frente de eventuais preconceitos. A faculdade - o ensino superior - não é uma dádiva, muito menos um privilégio – é um direito. As propinas poderão ser vistas como um valioso investimento no vosso futuro, que requerem no mínimo que vocês sejam retribuídos em géneros (infra-estruturas, conhecimento, …) e que esses serviços vos sejam prestados com a melhor garantia de qualidade. Mas a existência de propinas, bem como os encargos que representam, para a maioria das famílias portuguesas, os anteriores níveis de ensino, são em si um entrave para a chegada ao Ensino Superior. Não esqueçamos que Portugal tem a maior taxa de abandono escolar da União Europeia. Para a população entre 18 e 24 anos esta foi de 39,4% em 2004, quando a média da U.E. a 25 foi de 15,7%. Para além disso, enquanto que a média da U.E. referente à percentagem de população com o Ensino Superior é de 21, 8%, em Portugal apenas 9,4% das pessoas tem este grau de ensino (2,3 vezes menos). Por outro lado, o estado investe 20% menos no Ensino Superior que a média europeia, e as propinas portuguesas correspondem, em percentagem do rendimento per capita, 3 vezes mais que a média dos países da U.E.. Assim, facilmente poderás constatar que se para uns as propinas são como acções na bolsa à procura de retorno, para outros são mais uma sobrecarga no orçamento familiar, uma sobrecarga que aumenta todos os anos e que afasta cada vez mais mentes brilhantes da formação superior e, portanto, do seu direito à educação.

Aqui têm as ferramentas necessárias para começar o vosso ano. E, como dizia o outro, with the right tools, no one make us no fools.

Espalhem o aviso.

Está em vocês o poder para fazer da faculdade aquilo que dela auspiciam.

Boas aulas!

Estejam preparados.

Especial 1º ano - Regulamento Pedagógico

Para quem, pela primeira vez, chega a uma faculdade, a existência e funcionamento dos seus órgãos de gestão pode ser desconhecida e até confusa, mas certamente pensa que existem regulamentos que organizam a dita instituição. Tratando-se de uma escola, as questões pedagógicas deveriam portanto ser regidas por um destes documentos: um Regulamento Pedagógico. Na FML, até há bem pouco tempo, isto não era assim.

O primeiro Regulamento Pedagógico da FML foi aprovado pelo Conselho Pedagógico em 20 de Junho de 2005 e pela Comissão Coordenadora do Conselho Científico a 14 de Março de 2006, sendo homologado pelo Director nesse mesmo dia. Mas a sua história era então já muito longa. Há pelo menos 8 anos que este texto era tema de discussão nos dois Conselhos referidos: o Pedagógico, onde alunos e professores estão representados em igual número (4), que o redigia e aprovava; o Científico, apenas composto por professores, que sistematicamente o chumbava, impossibilitando a sua entrada em vigor.

O impasse foi resolvido, mas, entretanto, chegou Bolonha e o curso de Medicina foi reestruturado, adequando-se aos princípios deste Tratado. Esta reestruturação deixou o Regulamento Pedagógico desactualizado nalguns aspectos, mas este facto foi utilizado como justificação para a não aplicação de várias das regras que se mantinham não só actuais como fundamentais para a defesa dos direitos dos estudantes. Nelas se incluem o direito ao acesso às provas escritas realizadas, à revisão e reavaliação das mesmas e aos seus critérios de correcção, por exemplo.

No passado ano lectivo, o Conselho Pedagógico reiniciou esta discussão, de forma a rever o regulamento para que ficasse de acordo com os trâmites de Bolonha. Nós, os estudantes, organizámos reuniões onde discutimos e aprovámos a versão que seria defendida pelos nossos representantes. Para além do já referido, queríamos que fossem definidos prazos claros para divulgação do calendário escolar e de exames, bem como para a afixação de notas; disponibilizados os programas das cadeiras, que não fossem alterados durante o ano lectivo; definidas as condições de transição de ano.

Este processo de revisão foi ainda atribulado, implicou 3 reuniões do Conselho Pedagógico e algumas mais entre alunos e alguns docentes. De início muitas das nossas propostas foram recusadas, mas no final, muito por causa de uma directiva da Universidade que as incluía, o documento aprovado em Conselho Pedagógico satisfazia as nossas reivindicações.

Um novo ano lectivo começa, mas ainda sem o novo Regulamento Pedagógico, uma vez que este não foi levado ao Conselho Científico. Dada a pressão da UL é provável que seja aprovado, embora sem os critérios de transição de ano que propusemos. Torna-se, assim, fundamental que todos os alunos conheçam este regulamento, exijam a sua correcta aplicação e denunciem eventuais incumprimentos, para que o Regulamento Pedagógico seja finalmente uma realidade.